sábado, 9 de março de 2013

MISERICÓRDIA QUERO, E NÃO SACRIFÍCIO

Estudei hoje essa passagem do Evangelho, que pode ser resumida assim:


“Indo em direção do mar, viu Jesus um publicano conhecido pelo nome de Levi, sentado em seu escritório, e disse-lhe: Segue-me. Ele, levantou-se e abandonando tudo, o seguiu. Mais tarde, esse homem ofereceu a Jesus e aos que o acompanhavam um festim em sua própria casa, onde compareceram muitos outros publicanos e pecadores, que também se sentaram a comer com eles. Diante disso, diziam os fariseus aos discípulos: Porque o vosso Mestre come e bebe com publicanos e pecadores? Ouvindo-os, respondeu-lhes Jesus: Os sãos não têm necessidade de médicos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significam estas palavras: “Misericórdia quero, e não sacrifício”. Porquanto eu vim chamar, não os justos, mas os pecadores à penitência”.



A afirmativa de Jesus, de que não veio para os sãos, mas sim para os enfermos, é fácil de entender. Mas o que ele disse aos fariseus, "misericórdia quero, e não sacrifício" me chamou mais a atenção. Então fiquei pensando: qual a relação entre misericórdia e a atitude de Jesus de comer e beber com publicanos e pecadores?


A princípio, não consegui achar nada mais profundo, mas achei um texto de Rodolfo Caligares, que fala dos escribas e fariseus e nos permite uma melhor compreensão:


Trechos do Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

"Escribas e fariseus eram criaturas extremamente zelosas dos ritos, cerimônias e observâncias instituídas pelo rabinismo judaico. Cumpriam à risca essas exigências secundárias da lei, a que emprestavam grande valor, e, porque Jesus e seus discípulos não lhes davam a mesma consideração e respeito, não se cansavam de censurá-los, apontando-os à execração do povo. 



A religiosidade deles, entretanto, não ia além dessas práticas exteriores


...Por lhes conhecer a hipocrisia, os simulacros de virtude, é que o Mestre, ao iniciar sua interpretação da Lei e dos Profetas, no maravilhoso Sermão da Montanha, foi logo advertindo os que estavam a ouvi-lo: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”. (Mateus, 5:20).

Com essas palavras, queria frisar que a justiça perfeita, sem a qual ninguém será admitido nos altos planos da espiritualidade, consiste em “amarmos o próximo tanto quanto a nós mesmos”, mas isso incondicionalmente, sem cogitar de suas falhas, de sua nacionalidade, de sua raça, nem de seu credo religioso, como ele soube querer bem a todos, até mesmo àqueles que, por invencível ignorância, tornaram-se seus inimigos encarniçados. 

Sim, porque amar apenas os bons, os compatrícios, os de nossa cor ou os que comungam de nossa fé, com exclusão dos demais, é fazer distinção entre os filhos de Deus, é faltar com a caridade, e, pois, descumprir a Lei."

Comentário meu: Quando Jesus cita Ozias, dizendo "misericórdia quero, e não sacrifício (ou oferenda, na tradução do Haroldo Dutra)", ele se refere a uma lição do Antigo Testamento cujo sentido os fariseus já deveriam ter aprendido. Eles se fixavam no cumprimento dos sacrifícios, dos ritos, das oferendas, enfim, das práticas exteriores, esquecendo do principal da lei, a justiça, a misericórdia e a fé. Então o Mestre diz a eles: Ide e aprendei, ou seja, vão caminhar e refletir (fórmula rabínica de ensino oral) nessa lição: a misericórdia é o principal da Lei; as práticas exteriores são secundárias.

Os fariseus, nesta passagem, estavam apontando os erros de outras pessoas, como se eles mesmos fossem justos. Recusando-se, como faziam, a comer com gente considerada de má vida, estavam discriminando, fazendo distinção entre os filhos de Deus, e falhando no cumprimento do preceito de amar o próximo. Então Jesus esclarece o erro: não bastam as práticas exteriores; é preciso amar indistintamente.